domingo, 20 de novembro de 2016

ACESSIBILIDADE E INCLUSÃO",

O ensino estruturado para as Perturbações Do Espectro Do Autismo


Segundo as normas orientadoras, Brasil (2008), o PEA (Perturbações Do Espectro Do Autismo) são disfunções graves e precoces do neuro-desenvolvimento que persistem ao longo da vida, podendo coexistir com outras patologias.

Apesar da multiplicidade de estudos existentes e de se reconhecer que apresentam uma causa biológica bem demonstrada, continua ainda por definir qual a etiologia precisa que desencadeia um quadro clínico de autismo. No entanto, parece ser consensual3 que esta perturbação evidencia uma origem multifatorial, devendo ser considerados fatores genéticos, pré e pós natais, com uma combinação complexa que leva a uma grande variação na expressão comportamental.

Não obstante esta grande variação, tipicamente as PEA caracterizam-se por uma tríade clínica4 de perturbações que afetam as áreas da comunicação, interação social e comportamento

Presentemente, as PEA englobam:
·         Perturbação autística (autismo de Kanner, autismo infantil ou autismo clássico);
·         Perturbação de Asperger (Síndrome de Asperger);
·         Perturbação desintegrativa da segunda infância;
·         Perturbação global do desenvolvimento sem outra especificação (autismo atípico);
·         Síndrome de Rett.

O diagnóstico desta perturbação continua a ser realizado através da avaliação directa do comportamento do indivíduo, segundo determinados critérios clínicos presentes nos sistemas de classificação do DSM-IV6 e do CID-107. Ambos os sistemas de classificação aceitam que existe um espectro da condição autista que consiste numa perturbação do desenvolvimento e baseiam-se na tríade de características atrás mencionadas.

O ensino estruturado consiste num dos aspectos pedagógicos mais importantes do modelo TEACCH ( Tratamento e educação de autistas e de comunicação relacionadas Criança Deficiente) . O modelo TEACCH surgiu na sequência de um projeto de investigação que se destinava a ensinar aos pais técnicas comportamentais e métodos de educação especial que respondessem às necessidades dos seus filhos com autismo. Foi desenvolvido por Eric Schopler e seus colaboradores na década de 70, na Carolina do Norte (Estados Unidos da América).
O UEEA (unidades de ensino estruturado para a educação de alunos com perturbações do espectro do autismo), tem como objetivo principal ajudar a criança com PEA a crescer e a melhorar os seus desempenhos e capacidades adaptativas de modo a atingir o máximo de autonomia ao longo da vida.
O ensino estruturado que é aplicado pelo modelo TEACCH, tem vindo a ser utilizado em Portugal, desde 1996, como resposta educativa aos alunos com PEA em escolas do ensino regular.

Numa perspectiva educacional o foco do modelo TEACCH está no ensino de capacidades de comunicação, organização e prazer na partilha social. Centra-se nas áreas fortes frequentemente encontradas nas pessoas com PEA – processamento visual, memorização de rotinas funcionais e interesses especiais – e pode ser adaptado a necessidades individuais e a diferentes níveis de funcionamento.
É um modelo suficientemente flexível que se adequa à maneira de pensar e de aprender destas crianças/jovens e permite ao docente encontrar as estratégias mais adequadas para responder às necessidades de cada um.
O ensino estruturado traduz-se num conjunto de princípios e estratégias que, com base na estruturação externa do espaço, tempo, materiais e atividades, promovem uma organização interna que permite facilitar os processos de aprendizagem e de autonomia das pessoas com PEA, diminuindo a ocorrência de problemas de comportamento. Através do ensino estruturado é possível: 􀂃 Fornecer uma informação clara e objetiva das rotinas;

·          Manter um ambiente calmo e previsível;
·          Atender à sensibilidade do aluno aos estímulos sensoriais;
·          Propor tarefas diárias que o aluno é capaz de realizar;
·          Promover a autonomia.
·          
A criação de situações de ensino/aprendizagem estruturadas minimiza as dificuldades de organização e sequencialização, proporcionando segurança, confiança e ajuda a criança/jovem com PEA a capitalizar as suas forças.


Estrutura Física

A estrutura física consiste na forma de organizar e apresentar o espaço ou ambiente de ensino/aprendizagem. Este, deve ser estruturado de forma visualmente clara, com fronteiras e áreas bem definidas, permitindo que o aluno obtenha informação e se organize o mais autonomamente possível, sendo essencial para garantir a estabilidade e fomentar as aprendizagens.

A delimitação clara das diferentes áreas ajuda o aluno com PEA a entender melhor o seu meio e a relação entre os acontecimentos, permitindo-lhe compreender mais facilmente o que se espera que realize em cada um dos espaços. 

#PraCegoVer.

Figura 1 contém uma Planta de uma UEEA -  contendo 1 - Área de transição, 2 – Reunião, 3 – Aprender,4 – Trabalhar,5 – Brincar, 6- Trabalhar em grupo, 7 – Computador

Figura 1- Planta de uma UEEA


Legenda:

1 - Área de transição
2 - Reunião
3 – Aprender
4 – Trabalhar
5 – Brincar
6- Trabalhar em grupo
7 – Computador


Em uma UEEA (unidades de ensino estruturado para a educação de alunos com perturbações do espectro do autismo), podem ser criadas diferentes áreas. O espaço existente e as necessidades dos alunos estão na base da estruturação do espaço e na criação das que se considerem necessárias

Organização do Espaço

ÁREA DE TRANSIÇÃO

A Área de Transição corresponde ao espaço onde estão os horários individuais que irão orientar as atividades diárias de cada aluno (figura 11). As pistas visuais informam sobre onde, quando e o que fazer durante o dia ou parte do dia.

É possível planificar de forma previsível as muitas mudanças que ocorrem ao longo do dia, ajudando o aluno a superar a resistência à mudança ou as alterações de rotina, mesmo em situações que possam parecer pouco significativas. Dar ao aluno a noção de sequência temporal, facilita a compreensão de ordens verbais, ajuda a diminuir os problemas de comportamento e desenvolve a autonomia. 

#PraCegoVer.

Figura 2 um contém um Painel com o horário individual informa o aluno do que vai fazer ao longo do dia


Figura 2- O horário informa o aluno do que vai fazer ao longo do dia.



ÁREA DE APRENDER

A Área de Aprender é o espaço de ensino individualizado, limpo de estímulos distrações, onde se desenvolve a atenção e a concentração, ao mesmo tempo que novas competências e tarefas são trabalhadas e consolidadas com o aluno. São utilizadas estratégias demonstrativas, pistas visuais ou verbais, ajudas físicas, reforços positivos e também atividades que vão ao encontro dos interesses do aluno.

O plano de trabalho deverá estar visível (em cima da mesa) e os símbolos apresentados correspondem aos que estão nos tabuleiros com as tarefas a realizar, previamente organizadas. Desta forma, o aluno pega no primeiro símbolo do plano de trabalho e, dos tabuleiros colocados à sua esquerda, retira o correspondente ao símbolo que tem na mão, fixa-o no tabuleiro, ficando dois símbolos iguais lado a lado. Realiza a tarefa, coloca-a dentro do tabuleiro e arruma-o num local que corresponda a acabado. Procede de igual modo em relação às restantes tarefas, terminando o plano de trabalho quando os tabuleiros estiverem arrumados à sua direita. . hashtag 

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Figura 3 contém uma Área de aprender contendo uma mesa com caixa com divisórias com as atividades que devem ser ensinadas para aprendizagem individual.

Figura 3- Área de Aprender.

ÁREA DE TRABALHAR

É a Área na qual se pretende que o aluno realize de forma autónoma as atividades já aprendidas. Cada aluno deve ter a sua área de trabalhar. Também aqui, existe um plano de trabalho que transmite ao aluno informação visual sobre o que fazer e qual a sequência (cada tabuleiro deverá corresponder a uma tarefa com todo o material necessário para a sua realização). Com base em rotinas funcionais (direita/esquerda, cima/baixo), o aluno desenvolve a noção concretizada de princípio, meio e fim (começar, fazer e acabar), tornando-se capaz de realizar uma tarefa ou sequência de tarefas. 

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Figura 4 contém uma Área de trabalhar com as atividades que devem ser ensinadas na aprendizagem individual.


Figura 4- Área de Trabalhar



ÁREA DE REUNIÃO

Esta é uma Área destinada a desenvolver atividades que, garantindo a planificação e a estrutura, promovem a comunicação e a interação social. A Reunião pode realizar-se em vários momentos do dia, desde que todos os alunos ou a maioria se encontrem na unidade.

Alguns exemplos de situações a trabalhar nesta área:

·          Explorar o tempo, calendário, mapas de presenças;
·          Explorar objetos, imagens, sons, fantoches;
·          Aprender e cantar canções;
·          Ouvir histórias;
·          Aprender a escolher;
·          Imitar batimentos, gestos, ações;
·          Aprender a estar sentado;
·          Organizar/relatar experiências vividas;
·          Planificar e introduzir novos temas;
·          Generalizar aprendizagens em conjunto.

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Figura 5 contém uma Área de reunião, com cadeiras e lousa para reuniões em grupo

Figura 5- Área de Reunião.



ÁREA DE TRABALHAR EM GRUPO

É a Área na qual todo o grupo poderá desenvolver trabalhos em conjunto. Priorizasse o desenvolvimento de atividades expressivas como musicais, plásticas e outras; jogos de grupo (lotos, dominós, jogos da memória...), entre outras. Todos os alunos devem participar, independentemente do seu nível de funcionamento, desenvolvendo formas de interação e de partilha com os seus pares (inclusive alguns colegas da turma), aprendendo a esperar e a dar a vez, a escolher e a generalizar aprendizagens. 

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Figura 6 contém uma Área de trabalho em grupo com uma mesa e quatro cadeiras

Figura 6- Área de Trabalhar em Grupo.

ÁREA DE BRINCAR OU LAZER

É o local destinado a:
·         Aprender a relaxar;
·         fazer curtos momentos de espera;
·         permitir as estereotipia;
·         aprender a brincar (com a presença do adulto);
·         trabalhar o jogo simbólico.
Deverá existir material que ajude a descontrair como tapetes, almofadas, sofás, brinquedos variados, música e outros materiais que se entendam adequados. É o local privilegiado para a “inclusão inversa”, onde os pares da escola desenvolvem atividades criativas e estimulantes que podem servir de modelo. 

#PraCegoVer.

Figura 7 contém uma Àrea de brincar ou lazer contém um armário com brinquedos e pufes pelo chão.

Figura 7 - Área de Brincar ou Lazer.



ÁREA DO COMPUTADOR

Esta Área pode ser utilizada de forma autónoma, com ajuda, ou em parceria, aprendendo a esperar, a dar a vez e a executar uma atividade partilhada.
As Tecnologias de Informação e Comunicação podem ser utilizadas para ultrapassar eventuais dificuldades de reprodução gráfica, generalização de aprendizagens, de atenção e motivação.
Também contribui para melhorar, entre outras competências, a coordenação óculo manual, o entendimento de conceitos, a manifestação de conhecimentos e para a utilização de alguns meios aumentativos e/ou alternativos da comunicação. 

#PraCegoVer.

Figura 8 contém uma Área do computador , um computador desktop em cima da mesa com uma cadeira

Figura 8- Área do Computador.